Na edição de hoje a professora Ana Estela Haddad, do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria da Faculdade de Odontologia da USP, fala da importância da telemedicina e da telessaúde para o Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) editou em 2005 uma resolução recomendando aos seus 192 Estados membros, o Brasil incluído, o uso da telessaúde, ou seja, o uso de tecnologias de informação e comunicação para oferecer serviços e cuidados em saúde a distância, como estratégia para a melhoria dos sistemas de saúde, em especial os públicos de acesso universal como o Sistema Único de Saúde, o SUS.
Em 2006, o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Gestão da Educação na Saúde da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, criou o Programa Telessaúde Brasil, passando a oferecer aos médicos e demais profissionais que atuavam na Estratégia de Saúde da Família as teleconsultorias, uma segunda opinião para apoiá-los na resolução dos casos clínicos. A infraestrutura tecnológica e de conectividade foi um primeiro grande desafio, já que em 2007 a tecnologia móvel ainda não era uma realidade e não estava tão disseminada como atualmente.
Diferentes soluções foram testadas. No Estado do Amazonas, dada a amplitude do território, era onde o programa se mostrava mais necessário. Ao mesmo tempo, era onde a conectividade, para cima do Rio Amazonas, era dificílima. Os 60 municípios foram incluídos no programa, com o suporte da Universidade Estadual do Amazonas (UEA).
Padrões foram estabelecidos para a elaboração e oferta das teleconsultorias, considerando, por exemplo, a importância de que as respostas pudessem ser claras e diretas, ao mesmo tempo em que considerassem o contexto do serviço (em geral na atenção primária) em que seriam aplicadas, mas que também pudessem trazer algumas informações adicionais sobre o tema em questão e aproveitar a oportunidade para o processo de formação continuada dos profissionais.
Com o tempo veio a necessidade de telerregular as perguntas, estabelecendo quais deveriam ser respondidas no contexto da atenção básica e quais deveriam ser encaminhadas ao especialista. Na cidade de São Paulo, por exemplo, foi desenvolvida a plataforma de teleconsultorias articulada ao prontuário eletrônico e à regulação das teleconsultorias junto ao sistema de regulação central do sistema de saúde do município.
Com isso, esse método se tornou uma ferramenta não apenas para solucionar dúvidas clínicas, mas também de gestão para apoiar o fluxo dos pacientes, conforme sua necessidade, pelos diferentes pontos de atendimento, fortalecendo a referência e contrarreferência. Foram capacitados médicos, enfermeiros e dentistas da rede municipal para que pudessem atuar como teleconsultores em suas áreas de expertise, o que fortaleceu as redes de atenção.
Dados do Ministério da Saúde do ano de 2016, do Programa Telessaúde Brasil Redes, contabilizaram 481 mil teleconsultorias oferecidas, mais de 3 milhões de telediagnósticos e quase 3 milhões de participações em atividades de teleducação dirigidas aos profissionais de saúde do SUS. O monitoramento do Núcleo de Telessaúde do Rio de Janeiro, com sede na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, apontou que: em 87,1% dos casos, a teleconsultoria mudou a conduta do profissional responsável pelo atendimento direto do paciente; em 64,4% a teleconsultoria evitou a necessidade de encaminhamento do usuário do SUS para atendimento em outro ponto da rede de serviços; e em 10% dos casos o paciente foi encaminhado a um especialista, o que não teria ocorrido sem a teleconsultoria.
Esses resultados retratam que a ferramenta, aplicada dentro de padrões estabelecidos, foi capaz de impactar positivamente a resolubilidade da atenção à saúde prestada à população. Há resultados também referentes à redução de filas para determinadas especialidades, minimizando, por exemplo, a falta de médicos especialistas em determinadas localidades, bem como estudos demonstrando a economia de custos da assistência a partir da aplicação da telessaúde, atendidos os requisitos e padrões estabelecidos.
Em 2011, o Programa recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde o reconhecimento como modelo de sucesso para outros países da região, tendo rendido publicações internacionais e inovações em saúde.
Ficha Técnica
Edição sonora: Gabriel Soares
Produção: Rosemeire Talamone e Leticia Acquaviva
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